sábado, 12 de setembro de 2009

A mercantilização da libertade sexual

Texto pescado do Blog Divinas Tetas.
Por Vaca Profana:
Vocês, caros leitores classe média, se algum dia foram do tipo mais "baladeiro" e menso monogâmico, sabem bem: já foram num motel?
É um dos lugares que mais gosto de ir...você chega, geralmente de carro, moto ou a pé(mas só fui de carro), tem uma janelinha geralmente escura(vc não vê quem te atende) com um buraco embaixo do vidro, os preços e as horas que vc terá para ficar lá numa tabela iluminada, e pede o tipo de quarto que te apetece ou que seu bolso pode pagar. Ela te dá uma chave e vc entra em um lugar com muitas garagens cobertas; entra na garagem e fecha a porta, ninguém vê o modelo de seu carro/moto. E sobe num quarto, sempre bonito e limpo, com quadros eróticos e bom...o resto é por sua conta...Se for pedir alguma coisa, seja algo para comer ou algo para comer melhor(hahahahah), tudo é colocado em uma caixinha com portas dos dois lados; a atendente abre a porta, coloca o pedido, fecha a porta; você abre a porta do outro lado e pega o pedido...
Quando for sair, o mesmo esquema de não ver ninguém que te atende; eles fazem a inspeção p/ ver se vc não roubou nada, p/ ver se vc consumiu algum dos produtos disponíveis no quarto(sais de banho, camisinhas, etc) e te dão o valor. Se vc pagar com cartão, o comprovante de pagamento vem com qualquer nome que não seja de motel - já vi uns indicarem "moda unissex", "pizzaria", nome da cidade, mas nunca, jamais "motel dos prazeres"...
Se puder pagar, você poderá gritar, sujar todos os lençóis e colchões de tudo o que seu fetiche mandar, levar quem vc quiser p/ cama(homem, mulher, transgênero, travesti, a vizinha, o/a amante, a mulher, o marido, o/a namorada(o), um grupo de amigos pervertidos e malucos escondidos no carro - claro, se tiver dinheiro, vá p/ uma suíte de swing), poderá fazer aquele sexo por qualquer lado, de qualquer jeito, vestir cueca de elefante e roupa de dominatrix...tudo pelas horas mágicas muito bem pagas em que vc é livre entre 4 paredes...e ninguém vai saber do seu crime ali, ninguém. Seu casinho, sua curiosidade não hetero, seu fetiche de ser dominado, seus gritos, seu sonho de ser lambido com leite condensado - tudo segredo, o risco de encontrar o fofoqueiro da esquina, o padre da Igreja, a mãe, é restrito aos 15 minutos de entrada na suíte e saída da suíte. Bela liberdade.

Liberdade Sexual, afinal, é muito mais que isso. Muito mais do que caçar numa balada uma pessoa em quem gozar, sem se importar com seu prazer, com seu ser humano; muito mais do que poder fazer desde que bem pago e escondido, sustentando uma indústria nojenta, um ramo do mercado, a sociedade da mentira, da anestesia, do medo. Liberdade Sexual é poder, independente do quanto tem na carteira, do que tem no meio das pernas, do que quer ter no meio das pernas, de quem se quer na cama, manifestar-se, amar e conhecer a si mesmo, sem esconderijos, sem amarras, sem preço. E isso motel nenhum, balada nenhuma, academia e cosméticos natura nenhum nos dará. A mercantilização dos movimentos de liberdade sexual nos fez escravos do mercado, mas não libertos da moral cristã de culpa e pecado do sexo, do desejo; e ainda explorou altamente a ditadura da beleza, do corpo, elevando-a em seu mais alto grau.
E nada pode ser mais cruel que a ditadura que se impõe, no Capital, aos nossos corpos, à imaginação, ao desejo, ao amor, à humanidade. Por ter me retido por tanto tempo nessa falsa idéia de liberdade sexual que se compra a cada esquina, por ter por tanto tempo me alienado de meu desespero de liberdade, por ter ludibriado meus sentidos, por tudo o que tive que passar para me dar conta disso, eu jamais perdoarei o mercado e o Capitalismo, sua plasticidade irritante, sua falácia constante. Porque, por mais livre que eu possa ser no quarto de um motel, eu continuo sendo vítma de assédio sexual, continuo sendo a possível morta num ataque de neo nazistas por ser "livre", continuo tendo que calar para alguns lados da sociedade sobre meu amor livre, continuo ouvindo piadas machistas...
 
À merda a liberdade de consumo!! Eu quero emancipação humana!

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