sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

O Muro que falta derrubar

Pouco tempo após a queda do muro de Berlim, chegava ao fim a primeira experiência de construção de uma sociedade pós-capitalista: a União Soviética desintegrava-se, dando origem a várias outras repúblicas. Por meio de um golpe, Boris Yeltsin assumia o poder e abria a Rússia ao neoliberalismo, à ascensão da máfia, ao desemprego e à miséria. Os demais países integrantes do bloco do leste seguiram a mesma tendência.
Os meios de comunicação dispensam grande cobertura aos acontecimentos de 1989 e seus desdobramentos geopolíticos. O grande problema, ao meu ver, é a propagação ideológica de um triunfalismo hipócrita e falacioso, onde formadores de opinião repetem incessantemente um discurso padrão, através do qual, prega-se que a queda do modelo soviético é a prova viva e definitiva da vitória do capitalismo sobre o socialismo. Esse triunfalismo é hipócrita, porque, 20 anos após o teórico de direita Francis Fukuyama proclamar o “Fim da História”, vivenciamos uma crise econômica em escala global, porque guerras de caráter imperialista, fomentadas por corporações sedentas de petróleo e outras riquezas naturais, produzem, além de incontáveis genocídios, mais de uma dezena de milhões de refugiados. Esse triunfalismo é hipócrita, porque, segundo a ONU, mais de 1 bilhão de pessoas no mundo estão subnutridas, e porque, apesar do desenvolvimento tecnológico, a classe trabalhadora trabalha cada vez mais horas...
Esse triunfalismo é falacioso, pois a primeira experiência de socialismo surgiu há menos de um século (antes de 1917, tivemos apenas a comuna de Paris, que resistiu dois meses antes de ser esmagada), uma passagem de tempo dessa magnitude é apenas um fragmento dentro da milenar história humana. O capitalismo demorou mais de 500 anos para suplantar o feudalismo como modo de produção. Portanto, qualquer julgamento precipitado, e de caráter definitivo, trata-se de desonestidade com a história, ou então de doutrinação ideológica barata.
Se o capitalismo não se consolida como um modo de produção benéfico para a grande maioria das pessoas, é dever dos socialistas avaliarem os erros e acertos do leste europeu, analisar a Revolução Cubana, estudar os processos que ocorrem na América Latina e atuar para que a humanidade realize sua verdadeira emancipação. E comemore a derrubada definitiva do pior dos muros, o das classes.

Escrevi este texto quando do frenesi midiático em torno da passagem de 20 anos da queda do muro de Berlim.

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